Construção 4.0 é o termo utilizado para se referir a uma abordagem inovadora na indústria da Construção Civil que incorpora tecnologias avançadas e práticas modernas para melhorar eficiência, produtividade e sustentabilidade em todo o ciclo de vida de um projeto de construção.
No entanto, o caminho é longo para quem quer atuar de fato com as tecnologias da Indústria 4.0, mas o mais importante é começar e ir avançando um passo de cada vez.
O setor da Construção Civil demorou a perceber a necessidade da inovação e também a aplicá-la em seus contextos. Entre as consequências desse atraso, estão a deficiência em produtividade e a pouca eficiência e previsibilidade em processos, que leva a desperdícios de tempo e dinheiro na execução das obras.
No entanto, para acompanhar o ritmo do mercado e se manter relevante, é fundamental buscar adaptar-se às novas metodologias e tecnologias, mas como, você deve estar se perguntando? Fique até o final e descubra!
Neste artigo, explicamos o que é Construção 4.0, trazemos as novidades que a Indústria 4.0 trouxe para a Construção Civil, bem como os desafios que as construtoras precisam enfrentar para se adequar a este novo contexto.
O que é Construção 4.0?
A Indústria 4.0, período de desenvolvimento industrial no qual estamos situados, se refere à integração de processos produtivos industriais às diversas tecnologias disruptivas que estão sendo desenvolvidas, como Inteligência Artificial, Robótica, Internet das Coisas e computação em nuvem etc.
A Construção 4.0 é, portanto, a aplicação da evolução dos sistemas e tecnologias produtivas da Indústria 4.0 à Construção Civil. Seu principal objetivo é transformar a maneira como os projetos de construção são concebidos, planejados, executados e mantidos, resultando em projetos mais eficientes, sustentáveis e economicamente viáveis.
A tecnologia surge, então, como uma importante condutora da transformação da jornada construtiva para levá-la a uma Construção 4.0.
Aliadas a metodologias como a do Lean Construction, diversas soluções digitais inteligentes já estão disponíveis para que as construtoras ganhem mais eficiência e qualidade em suas atividades. Confira a seguir quais são essas tecnologias e no final, tenha acesso aos exemplos práticos de sua aplicação.
Tecnologias da Construção 4.0 que você precisa conhecer
Para além de conhecer o conceito de Construção 4.0, é preciso entender quais avanços tecnológicos essa nova era traz para as construtoras. Assim, se torna possível determinar qual será o primeiro investimento a ser implementado, o próximo, e assim por diante.
Confira abaixo as ferramentas que poderão auxiliar na eficiência e agilidade dos processos construtivos:
BIM: representação virtual da construção que inclui, além da visualização do projeto, diversas informações, como valores de componentes, propriedades de materiais e prazos.
Sensores: dispositivos que coletam dados do ambiente, como localização, temperatura, movimento ou umidade.
IoT: a “Internet das Coisas”, que facilita o fluxo de dados entre objetos, pessoas e bancos de dados.
Inteligência Artificial: sistemas virtuais com características semelhantes ao raciocínio humano, podendo ser empregados em classificações, predições, processamento de imagens, resolução de problemas, entre outros.
Realidade Aumentada/Artificial: tecnologias que possibilitam a adição de elementos virtuais à visão do mundo real, no caso da realidade aumentada, e a geração de visualizações altamente imersivas virtuais, no caso da realidade virtual.
Robótica e Automação: utilização de máquinas para realizar tarefas que normalmente são desempenhadas por humanos, com aplicações em transporte, montagem, produção, entre outros.
Ambiente Comum de Dados na Nuvem: solução online para armazenamento e compartilhamento de informações, permitindo a distribuição para os envolvidos conforme necessário.
Sistemas Aéreos Não Tripulados: veículos voadores não tripulados, como drones, utilizados principalmente para a coleta de imagens aéreas para análise posterior.
Após a familiarização com os conceitos, confira abaixo a aplicação prática e suas vantagens para a Construção Civil.
Transformação Digital
Segundo Roberto de Souza, da CTE e Enredes, a digitalização é um importante pilar da inovação para a Construção Civil 4.0. Em um bate-papo sobre o Cenário da Transformação Digital na Construção Civil, Roberto destacou que, em termos de digitalização, já há um avanço significativo da adoção de BIM pelas construtoras em todo o país.
Mais de 500 moradias em wood frame foram construídas em São Sebastião em apenas 6 meses, geralmente o prazo para a construção das mesmas chega a 18 meses. Essa notícia exemplifica como a construção modular é um recurso importante para reduzir desperdícios e aumentar a agilidade do setor.
A construção modular é um modelo que pode ser usado na construção de diferentes projetos, e um dos principais benefícios é o ganho de velocidade. Para empreendimentos comerciais e de serviço (exemplo: lojas, supermercados, hotéis, hospitais, obras feitas para renda) isso se torna uma vantagem enorme, já que nestes casos o prazo de entrega é de grande importância: quanto antes a obra é entregue, antes começa a gerar faturamento.
Em relação aos tipos de sistemas construtivos, as paredes de concreto, também usadas em construções modulares, já são largamente adotadas em diferentes obras no Brasil, especialmente as populares. Mas já há um crescimento do wood frame, a consolidação da estrutura metálica em projetos corporativos e um início da madeira engenheirada e do steel frame.
Análise de Big Data
Um relatório apresentado pela PwC Global orienta sobre a necessidade do uso de dados em todos os setores da indústria. A falta de clareza com relação ao mercado, exigirá mais cautela em decisões financeiras, impactando, inclusive, a implementação de novas soluções.
Ao reunir e analisar dados detalhados sobre cada projeto, desde as questões administrativas, financeiras, arquitetônicas e de engenharia até disposições contratuais – as construtoras poderão entender os cenários e definir rumos de atuação com maior propriedade.
Integração das etapas construtivas
Integrar a gestão e o planejamento dos projetos é outra importante diretriz da Construção Civil 4.0. Sabemos que cada etapa da obra costuma envolver muitas equipes e gerar dados em excesso, e nem sempre é fácil ter previsibilidade e controle sobre todo o processo.
Mas, com o apoio da tecnologia e integração de softwares de gestão e planejamento, como o BIM, os ERPs, a Previson, torna-se simples centralizar, integrar, utilizar e acessar sempre que necessário as informações, criando gráficos e dashboards para facilitar o controle de todo o empreendimento. Esta integração traz agilidade para análises preditivas de Big Data Analytics que falamos acima.
Tecnologia para colaboração entre equipes
Outro aspecto importante é a conexão de equipes. Neste ponto, a tecnologia de colaboração traz ferramentas que permitem o acesso em diferentes dispositivos. Com eles, os profissionais conseguem trabalhar juntos, mesmo estando em locais diferentes.
Uma pesquisa realizada pela Procore, com empresas dos Estados Unidos e Canadá, mostra que 90% dos entrevistados continuarão trabalhando em regime home office nos próximos meses. Por esse motivo, 75% acreditam que tecnologias de colaboração serão mais utilizadas. Esses dados mostram que o trabalho colaborativo, entre profissionais do canteiro de obras e do escritório também será possível com o uso da tecnologia.
Vale destacar que uma importante facilitadora das tecnologias de colaboração é a computação em nuvem, que fornece serviços e soluções como servidores, armazenamento, bancos de dados, rede, software, análise e inteligência, tudo pela Internet.
Drones
Os drones já estão por toda a parte e desempenham inúmeras funções, como entregas, coleta de imagens e vídeos, transporte de medicamentos e até órgãos. Na construção, por exemplo, ele é utilizado para:
Levantamento topográfico e mapeamento
Inspeções visuais
Monitoramento de progresso da construção
Gestão de inventário e logística
Segurança no canteiro de obras
Entrega de materiais
Mapeamento térmico e detecção de defeitos
Acompanhamento ambiental
O uso de drones na Construção Civil não apenas aumenta a eficiência operacional, mas também reduz custos, melhora a segurança no local de trabalho e proporciona uma visão mais detalhada e precisa do projeto.
O primeiro passo: mudança de mindset, foco em pessoas e processos
Uma pesquisa realizada pela Deloitte revelou que apenas 25% das lideranças acreditam que seus times tenham competências necessárias para atuarem na indústria 4.0. Ao mesmo tempo, 17% das empresas não valorizam o capital humano como fator necessário para a implantação da indústria 4.0.
Mas, como ter um time capacitado para atuar com inovação e tecnologia, se o fator humano não é uma prioridade para as empresas?
Para Osvaldo Lahoz Maia, especialista em inovação e tecnologia do SENAI/SP, “o entendimento da Indústria 4.0 vai muito além da tecnologia. É um novo mindset, uma nova condição de interpretar o negócio tecnológico”.
Portanto, fica claro que as organizações dependem de seus colaboradores para evoluírem nesse sentido. A consultora Márcia Codecco também falou sobre a importância das pessoas e de uma gestão integrada com o time neste processo de inovação.
Para ela, a construção civil sempre foi muito focada no resultado, sem perceber o caminho que é necessário trilhar para chegar a ele. “Há um processo de maturação necessário, que passa pelas pessoas, e são elas que vão levar a implementação de projetos sustentáveis e perenes”, explicou. Confira o que a Márcia tem a dizer sobre gestão de pessoas, tecnologia e liderança na Construção Civil, no vídeo:
O especialista do SENAI/SP também defende que o Brasil precisa competir de igual para igual com outros mercados, sendo protagonista das tendências e não apenas um seguidor. “É preciso olhar para outros mercados, mas conseguir aplicar a tecnologia para a realidade do nosso país. Assim, vamos conseguir criar nossas próprias tendências”.
Conclusão
Como vimos, adotar as tecnologias da Construção Civil 4.0 não é necessariamente ser totalmente disruptivo nos processos da construtora. Para chegar até ela, a recomendação é simples: primeiro mude a forma de pensar, depois, implemente melhorias nos processos internos e da obra, sempre verificando o que as outras construtoras também estão fazendo para avançar, ou seja, olhe para fora e vá ao encontro disso para implementar no seu dia a dia.
E mais do que isso, é importante incluir os colaboradores da construtora em todo o processo de mudança, criando uma cultura de inovação e mudança e melhoria constantes. A partir daí, pode-se buscar ferramentas e tecnologias que foram compartilhadas acima para potencializarem os resultados.
As empresas, hoje, operam em um ambiente de negócios altamente competitivo, onde decisões mínimas podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso. Uma das ferramentas mais poderosas à disposição dos líderes empresariais neste cenário é a análise de dados e informações.
Mas, no contato com a indústria, notamos que uma das maiores dificuldades do setor era ter informações, sem filtros, sobre o consumidor final, indicando hábitos de consumo e preferências – como periodicidade de compra, gostos por cores e texturas, tipos de pisos, design de metais sanitários etc.
O Relatório Febramat, oferecido com exclusividade para as nossas indústrias associadas, veio justamente para sanar essa necessidade. No material é possível encontrar todas as informações necessárias para análise do mercado atual e, também, para a antecipação de tendências.
A base de informações já armazenadas pela Febramat permite levantar o volume de vendas dos mais diversos itens nos últimos 10 anos, de parafusos a pisos e revestimentos, em todas as redes que compõem a Federação. Essas informações chegam ao nosso sistema praticamente em tempo real: o consumidor faz a compra na loja e, em cerca de 15 minutos, nossa base é atualizada!
Assim, além de produzirmos informação sobre a performance atual dos nossos parceiros e sugerir ações para incrementá-las, oferecemos uma perspectiva histórica das preferências e perfil de compra do segmento de pequenas e médias lojas de MatCon por um período muito interessante de tempo.
Benefícios do Relatório Febramat:
● Amplitude nacional: nossas informações sobre o consumidor final são coletadas em 21 estados do Brasil, com ampla representatividade nacional. Os dados refletem, com elevado grau de acuracidade a realidade, o que as indústrias que operam no segmento de MatCon encontram no dia a dia de suas respectivas operações;
● Aderência à realidade: o principal diferencial do relatório produzido pela Febramat é o elevado grau de aderência à real condição do mercado. Nos orgulhamos de ter a melhor base de dados sobre pequenas e médias lojas de MatCon do Brasil;
● Segmentação por regiões e períodos: é possível ter informação de mercado agregada ou separada por CNPJ, redes, estados e regiões.
Além disso, há como saber a periodicidade de compra e prazo médio ofertado pelo mercado para cada item, entre outras informações;
● Previsibilidade: com os dados levantados, há como traçar um índice indireto que mede a variação no consumo de material básico (areia, tijolo/bloco e brita) mês a mês. Comparando esses dados com os do ano anterior, há como prever acréscimo ou decréscimo na venda de acabamentos (pisos, tintas, metais, forros e etc) em períodos de 3 a 6 meses após a apuração do relatório, indicando, inclusive, o consumo futuro.
● Flexibilidade de prazos: a pedido das indústrias, produzimos o relatório a cada 3 meses, justamente para coincidir com os fechamentos trimestrais das equipes de vendas. Mas é possível fazer com periodicidades específicas para as necessidades dos sócios;
● Múltiplas possibilidades de uso e aplicações: as informações são apresentadas em planilhas, para que as equipes de dados das indústrias possam trabalhar nelas da melhor forma;
● Análise da equipe Febramat: caso a indústria tenha dificuldades em trabalhar as informações repassadas, realizamos reuniões para apresentação da nossa análise e sugerimos ações para maximizar a performance das indústrias junto às redes associadas.
Seja uma indústria associada agora mesmo! Esse é um importante benefício para as áreas de Planejamento de Mercado e Comercial de qualquer empresa. Além disso, com os dados do Relatório Febramat, adicionamos muito valor para os responsáveis pelo planejamento da companhia, que certamente é baseado em tendências de mercado.
Montadas como um ‘lego’, as peças metálicas são autoportantes e leves. Os principais cuidados são adotados na fase de projeto
Os mezaninos em aço predominam em lojas de shopping centers e de galpões industriais e logísticos. Agora, ganham espaço em residências e nos apartamentos compactos com pé-direito duplo, possibilitando a ampliação da área do imóvel. De acordo com a engenheira Heloísa Martins Maringoni, titular da Companhia de Projetos, a escolha se deve tanto pela leveza e capacidade autoportante quanto pela durabilidade e possibilidade de ampliações e adaptações.
Suas peças, pré-definidas, são montadas como um ‘lego’ e o peso próprio da estrutura é bem menor do que aquele que suporta
Heloísa Martins Maringoni
“Suas peças, pré-definidas, são montadas como um ‘lego’ e o peso próprio da estrutura é bem menor do que aquele que suporta”, diz, explicando que se essa relação for entendida como rendimento, este é da ordem de 1000%. Ou seja, suporta 10 vezes o que pesa. Dessa forma, a capacidade disponível em uma estrutura preexistente ganha na otimização de uso.
A engenheira compara o mezanino metálico com o de concreto e o de madeira. “A solução em concreto é construída junto com a estrutura do edifício, faz parte do projeto original”, diz. No caso de ser executada posteriormente – situação comum em lojas de shoppings em que há uma estimativa de carga, mas não a definição de ocupação –, a melhor solução é o aço ou a madeira. Esses materiais reduzem o peso próprio para otimização de uso e de pilaretes de apoio.
“Além disso, o mezanino em aço resulta na redução das dimensões estruturais, o que leva ao ganho de alturas livres”, destaca. Tanto a estrutura em aço quanto em madeira é de seção ativa, ou seja, é constituída de barras. As estruturas em madeira têm seções um pouco maiores e detalhes de ligação mais delicados, visto ser um material com resistência diferente em relação às fibras. As placas de piso devem ser, preferencialmente, de material industrializado, painéis ou placas, de forma a manter a condição de obra seca, a leveza e a prontidão de resposta estrutural.
INSTALAÇÃO DOS MEZANINOS EM AÇO
Ainda na fase de concepção do mezanino, o projeto deve considerar as possibilidades de apoio (cargas máximas por ponto) e travamento. “Geralmente, há restrições em estruturas preexistentes”, adverte. As ligações entre os elementos estruturais no aço, como os engastes, articulações e tirantes, precisam ser bem definidas, pois esses vínculos podem mudar o sistema estrutural.
Cuidado especial deve ser tomado na ancoragem com o concreto, de maneira a não danificar peças existentes. Na instalação dos chumbadores de expansão ou químicos, é preciso respeitar as distâncias mínimas entre eles e a distância de borda, de forma a garantir a integridade do elemento base e da capacidade da ligação.
“Entre as placas de piso e a face de apoio nas vigas deve ser colocado um elemento amortizador de som, como Neoprene ou fitas de amortização de impacto ou isolamento sonoro. O revestimento da placa de piso também pede algum amortecimento e, se for adotado forro, pode-se utilizar entre piso e forro uma manta de lã de rocha ou lã de PET – materiais que colaboram com o isolamento acústico”, recomenda Maringoni.
TIPOS DE REVESTIMENTO
Os revestimentos flexíveis de piso são os ideais para revestir mezaninos metálicos. A explicação é que toda estrutura deforma, algumas ao longo do tempo, outras sob ação imediata da solicitação, como ocorre com o aço. Essa deformação, num curto espaço de tempo, é a vibração. “Estruturas leves vibram e, para atender a limites que evitem desconforto ao usuário, a vibração é controlada em projeto”, afirma. O revestimento de piso sofre com essas deformações, portanto, em mezanino metálico a melhor solução é o uso de vinílicos ou emborrachados.
Segundo Heloísa Maringoni, nem mesmo ambientes agressivos, como os de alguns ramos industriais ou edificações em regiões litorâneas, devem renunciar aos mezaninos metálicos. “Toda estrutura precisa de manutenção. Por mais criteriosa que seja a pintura, ela deve ser refeita a cada oito ou 10 anos. Em meios agressivos ou de difícil acesso para manutenção, o aço pode ser empregado, desde que protegido por galvanização a quente”, conclui.
CASE STUDIO PIER 88
O escritório Pietro Terlizzi Arquitetura fez amplo uso de mezanino metálico no projeto do Studio Pier 88, produtora de vídeos e fotos, transformando um antigo galpão de 2 mil m² no bairro paulistano de Vila Leopoldina. “Os proprietários conheciam em Nova York e Los Angeles inúmeros exemplos de edificações que um dia foram fábricas ou depósitos, como essa, retrofitadas e usadas por estúdios”, conta Pietro Terlizzi.
Toda a estrutura metálica dos mezaninos foi instalada de maneira independente dos muros e treliças originais do galpão, apoiando-se apenas no piso, com fechamentos em drywall. Na área do térreo, optamos por fechamentos laterais em alvenaria
Pietro Terlizzi
O projeto alocou as áreas comuns na parte frontal do terreno com ambientes como recepção, administração, depósito de materiais e sala de reunião, entre outros. Na parte posterior, foram criadas cinco grandes salas de fotografia e filmagem, com seus mezaninos e camarins exclusivos que receberam a infraestrutura necessária para as sessões de fotos e filmagens. “Toda a estrutura metálica dos mezaninos foi instalada de maneira independente dos muros e treliças originais do galpão, apoiando-se apenas no piso, com fechamentos em drywall. Na área do térreo, optamos por fechamentos laterais em alvenaria”, diz o arquiteto.
O telhado original recebeu isolamento termoacústico, restauro e reparos nas treliças de madeira que chegam a ter 2,5m de altura. Sistema de climatização nas salas de gravação assegura o conforto dos modelos que participam da produção das roupas de verão e inverno da Europa e Estados Unidos.
“A ideia foi deixar o projeto com os materiais aparentes, mantendo a identidade industrial original da construção. O contraste entre a estrutura de madeira do telhado original do galpão pintada de branco e a estrutura em aço dos mezaninos na cor cinza chumbo deixa claro que parte do projeto tem mais de meio século e parte é composta de elementos introduzidos agora”, comenta Terlizzi.
Apesar dos avanços, ainda existem mais de 13 mil trabalhadores da construção que merecem atenção para equacionar essa triste realidade
A construção civil foi historicamente o destino que o mercado de trabalho reservava a boa parte da população de baixa escolaridade — especialmente homens na fase adulta, residentes de áreas urbanas. A necessidade de mão de obra física/braçal em grande contingente e a natureza artesanal de muitos processos construtivos sempre asseguraram a absorção de fatia expressiva desse perfil de força de trabalho. Portanto, trata-se de uma enorme ‘porta de entrada’ a quem tem pouco estudo e precisa trabalhar, correto?
Não mais! Hoje em dia, raramente um operário passa pela construção civil sem ter uma oportunidade de elevar o nível de aprendizado e/ou qualificação. A maior prova é que apenas 0,59% dos profissionais formais atuantes no setor se declaram analfabetos — conforme consta na Relação Anual de Informações Sociais (Rais 2021), dado oficial mais recente. Esse número é 34% menor do que o verificado na Rais 2015 (0,71%); 66% do que o registrado na Rais 2001 (2,44%) e 89% do que o registrado na Rais 1988 (5,3%).
Mérito das políticas públicas, que de fato promoveram uma redução geral da taxa de analfabetismo do país, nas últimas décadas. Mas não se pode ignorar o enorme esforço por parte das empresas, que trouxeram para si esta responsabilidade e, com o apoio de sindicatos e de entidades da sociedade civil organizada, tiraram o setor do topo da lista das atividades com maior número de mão de obra analfabeta.
Atualmente, segundo a Rais, a construção civil é a quinta desse ranking em números absolutos. Na frente estão os setores de serviços (61 mil trabalhadores analfabetos), indústria (44 mil), agropecuária (32 mil) e comércio (16 mil). Exceto a agropecuária, todos seguem uma trajetória totalmente distinta, com números que denotam estabilidade e até mesmo aumento do contingente de analfabetos a partir de 2015. Isso reforça mais uma vez o comprometimento do setor com a causa.
Contudo, ainda não é o momento para comemorar. Apesar dos incontestáveis avanços, existe um universo bastante significativo, de mais de 13 mil trabalhadores da construção que merecem atenção especial para finalmente equacionarmos essa triste realidade.
Da parte das empresas, nota-se um contínuo interesse em de fato avançar nesse caminho. O fortalecimento da agenda ESG; o processo acelerado de inovação tecnológica e, sobretudo, de automação que vive o setor, impulsionam a condução desses passos, pois tornam a alfabetização ainda mais essencial, seja para compreensão de manuais, avisos, assim como de normas técnicas que evitam acidentes.
Metas ambiciosas, alinhadas aos ODSs da ONU, têm sido assumidas pelas principais companhias do setor – que por sua vez servem de referência e encorajam as demais a fazerem o mesmo.
A MRV&CO, por exemplo, anunciou a meta de zerar o número de trabalhadores não alfabetizados em seus canteiros de obras. O desafio abrange cerca de 700 funcionários, ainda sem nenhum grau de instrução, a serem convencidos da importância de saber ler e escrever. Para tanto, a empresa conta com o projeto Escola Nota 10, que visa alfabetizar e qualificar esses colaboradores nos canteiros de obras durante o horário de trabalho. Só em 2022 a companhia criou 34 escolas próprias. E, ao longo de mais de dez anos do projeto 4,8 mil trabalhadores da companhia já foram alfabetizados — colecionando histórias de superação e de sucesso, seja pessoal, seja profissional.
Uma mostra do quanto o setor tem levado a sério essa questão e, mais importante, conquistado resultados altamente transformadores — que não merecem passar despercebidos. A propósito, celebramos este mês o Dia Internacional da Educação, que tem por objetivo justamente reforçar a importância do ensino no desenvolvimento da humanidade. A alfabetização, sem dúvida, é o passo primordial. Cabe a nós, portanto, enaltecer os bons exemplos que temos para que sirvam de inspiração a todos.
Metodologia VDC tem o potencial para deixar a indústria da construção muito mais eficiente
Em recente artigo publicado pelos autores sobre produtividade e eficiência na indústria da construção civil, comentou-se sobre os desafios enfrentados por este setor para reduzir o “gap” tecnológico observado (em nível global) em relação a outras atividades econômicas produtivas, e assim fazer frente às oportunidades e demandas crescentes deste mercado. Neste cenário, identificou-se a metodologia Virtual Design and Construction (VDC) como uma solução promissora, com o potencial de levar a indústria da construção a outro patamar de eficiência e produtividade.
O VDC é uma metodologia de gestão originalmente proposta em 2001 pelo Center for Integrated Facility Engineering (Cife), da Universidade de Stanford, desenvolvida pelo professor Martin Fisher. Trata-se de uma iniciativa que visa a integração entre projeto e construção, cuja implementação está baseada em três princípios:
Estabelecer uma estrutura de integração entre as áreas, que disponha de ferramentas e recursos para facilitar e acelerar a busca de soluções para os inevitáveis conflitos;
Criar uma sistemática que promova o alinhamento de objetivos, de forma que as diferentes áreas envolvidas conheçam as interdependências dos processos e possam estabelecer marcos comuns durante o projeto;
Dispor de ferramentas (softwares) para a criação e visualização de modelos 3D (BIM) do empreendimento, de modo a facilitar a coordenação multidisciplinar e a interação com o cliente final.
Decorre diretamente destes princípios um framework característico com três componentes distintos: ICE, PPM e BIM, apresentados na sequência.
Integrated Concurrent Engineering (ICE)
Trata-se de uma técnica baseada no método de “Colaboração Extrema” desenvolvido pelo Jet Propulsion Laboratory da NASA, que possibilita acelerar a etapa de projeto de forma significativa, tornando o processo mais eficaz e o produto final mais confiável. Esta consiste basicamente em se colocar todos os stakeholders (equipes com poder de decisão) em um mesmo ambiente para a análise conjunta do modelo virtual (espaço comumente designado como “Big Room”) e proceder com uma verificação de consistência e a análise de “constructability”. Com isto, consegue-se reduzir drasticamente a “latência” de resposta dos processos decisórios — é daí que resulta o grande ganho de eficiência observado durante a fase de projeto.
Project Production Management (PPM)
O PPM estabelece rotinas que favorecem / viabilizam a implementação de processos mais confiáveis, através da organização e controle dos fluxos de trabalho, com técnicas similares àquelas aplicadas em metodologias ágeis (Lean Construction). Este controle se dá por meio do uso de “buffers” com balanceamento de Capacidade-Inventário/Recursos-Tempo e a definição de Métricas de Produção e de Fatores Controláveis. Em consequência, reduz-se a variabilidade dos produtos obtidos em uma sequência de atividades produtivas, garantindo que os objetivos do projeto sejam atingidos mais facilmente e com ganhos de eficiência.
Building Information Modelling (BIM)
Um modelo BIM corresponde à representação digital compartilhada de um ativo a construir para facilitar a fase de desenvolvimento do projeto, coordenação multidisciplinar, construção e operação de um empreendimento. Este modelo representa o escopo físico do produto almejado e fornece uma base confiável para fundamentar o processo de tomada de decisões em cada etapa de seu desenvolvimento.
Uma vez implementado, o VDC permite eliminar a fragmentação na indústria da construção, avaliar alternativas interdisciplinares, tomar as melhores decisões, promover a troca de informações e a integração entre projeto e construção, envolvendo pessoas, sistemas, empresas e práticas para aumentar a eficácia e eficiência da etapa de obra. Resulta deste processo uma sistemática com potencial de conduzir a Construção Civil para outro patamar de qualidade, produtividade e eficiência, pavimentando o caminho rumo à industrialização do setor: a construção na era da Indústria 4.0.